quarta-feira, 24 de julho de 2013

Projeto desenvolvido por ONG de Paulo Jacinto muda a vida de crianças e adolescentes da cidade


 Repórter: Lucas França

O Espaço Ciranda, Organização Não Governamental da cidade de Paulo Jacinto, no Agreste do Estado de Alagoas, iniciou suas atividades em 2012. O projeto, que atende a mais de 90 jovens, desenvolve atividades artísticas, culturais e de comunicação, como balé, dança, teatro e música, entre outras. O intuito do projeto, além da prevenção social, é acompanhar o desenvolvimento emocional, psicológico e humano de adolescentes e crianças da cidade que estão em situação de vulnerabilidade social.
De acordo com a idealizadora da ONG, Maria Helena Uchôa Veiga, a ideia do espaço já existia há anos. Mas, devido à correria do dia a dia, vida profissional, filhos e marido, ela não tinha tempo para colocar o projeto em prática. Depois de uma temporada de três anos em Recife, Maria Helena retornou a Alagoas com uma meta a cumprir: tirar o Espaço Ciranda do papel e transformá-lo em realidade. O sonho falou mais alto e a jovem decidiu reunir um grupo de amigos para ajudá-la.
A primeira reunião do projeto aconteceu no dia 3 de junho de 2012. Na ocasião, foram apresentadas propostas do projeto e o principal objetivo da ONG: desenvolver a autonomia pessoal, intelectual e social de adolescentes e crianças da cidade, estimulando novas formas de se relacionar socialmente e ampliando as capacidades socioculturais.
A principal meta do Espaço Ciranda não é apenas ocupar o tempo ocioso dos jovens, mas também promover atividades culturais e lazer de qualidade. Todos os interessados em participar da iniciativa têm fichas sociais preenchidas. Além disso, são realizados estudos para melhor conhecimento da realidade de cada um.  Através da ficha social, os organizadores do espaço acompanham o desenvolvimento emocional, psicológico e humano dos jovens atendidos e suas relações sociais e intrafamiliares. O acompanhamento é realizado por meio do método de observação, conversas informais e formais, parceria direta com as escolas e contato com pais ou responsáveis.
Vale ressaltar que todos os projetos, principalmente os voltados para o público infantil, buscam interação direta com os familiares, pois, para os idealizadores, a maior transformação social deve ser realizada no núcleo familiar.  Além das atividades culturais desenvolvidas,  também são discutidos em debates feitos pelas equipes e palestrantes convidados temas como bullying, sexualidade, política e doenças sexualmente transmissíveis. Maria Helena destaca que, no Espaço Ciranda, os adolescentes têm voz ativa e são participativos, sugerindo mudanças e dando ideias para o melhoramento das atividades desenvolvidas. 
A iniciativa mudou a rotina da cidade. Antes, os adolescentes clamavam por atenção e a ociosidade tomava conta do município. Hoje, eles precisam organizar suas agendas para dar tempo de participar de tantos projetos sociais e apresentações solicitadas pela população nos eventos da cidade.
O estudante Victor Andrade, 16, está no Ciranda desde a criação da ONG. Ele sofreu um acidente, há pouco mais de um ano, que deixou sequelas em uma de suas pernas. Cristina Santos, mãe do adolescente, conta que Victor ficou deprimido, não queria sair de casa e estava desanimado com os estudos. O sonho do adolescente era dançar, mas, após o acidente, ele passou a acreditar que isso não seria possível. No Espaço Ciranda, Victor recuperou a autoestima e viu que sua limitação seria superada. Hoje, o jovem faz dança e teatro e é um dos destaques do grupo. As crianças e adolescentes que participam dos projetos sociais da ONG sonham com uma profissão e convidam todos os amigos a participar, conhecer e fazer parte da iniciativa.
O Espaço Ciranda de Cultura e Desenvolvimento Social – ECCDS tem seus trabalhos focados nas crianças e adolescentes paulojacintenses, podendo suas atividades ser estendidas, futuramente, para outros públicos. A proposta inicial era que as atividades fossem realizadas em espaços públicos da cidade, como escolas, praças, quadras, ginásios e até a casa de algum membro do projeto. A idealizadora do Ciranda conta que, no início, a grande dificuldade era a falta de sede própria. A ausência de recursos impossibilitava as condições de manter um espaço para desenvolver as atividades. Para contornar o problema, os voluntários da ECCDS decidiram, então, utilizar espaços públicos para que a sociedade conhecesse os trabalhos desenvolvidos.
Além disso, o projeto conta com o apoio da Paróquia Nossa Senhora das Graças, que cedeu um pequeno espaço para reuniões da equipe, e da Escola Municipal Souza Barbosa e Escola Estadual José Correia Fontan, que também cederam espaços para a realização de projetos com os adolescentes. O Clube Recreativo Paulojacintense também é um dos parceiros.
Atualmente, o Espaço Ciranda possui sede própria. Sua equipe é formada por profissionais voluntários, como pedagogos, assistentes sociais, artista plástico, professora de dança e teatro, psicóloga e estudantes universitários. Todos os recursos para deixar o espaço funcionando são obtidos por meio de dedução fiscal, doações espontâneas, campanhas, rifas, bingos, bazar cultural, festivais, financiamentos e editais.

Conhecendo melhor a idealizadora

Maria Helena Uchôa Veiga, 28, é assistente social formada pela Universidade Federal de Alagoas. Possui curso de atualização em políticas de proteção à infância e à adolescência e especialização em planejamento e gestão de projetos sociais. Foi assistente social técnica do Centro de Referência Social (Cras) do Município de Paulo Jacinto e coordenadora do Projovem, também de Paulo Jacinto. Entre os anos de 2008 e 2009, foi assistente social do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Zumbi dos Palmares (AL). Também foi assistente social do Centro de Saúde Severino Josino Guerra, da cidade de Paulista (PE). De 2009 a 2011, atuou como assistente social do Centro Dom Hélder Câmara de Estudos e Ação Social, em Recife (PE).
              Além de sua experiência e trabalhos na área de projetos voltados a crianças e jovens, Maria Helena é casada e mãe de duas crianças. Mesmo assim, ainda arruma tempo para cuidar dos “cirandeiros”, como ela chama carinhosamente os jovens do projeto.


Sobre o nome do projeto

            Por que o nome Espaço Ciranda?
O surgimento da ciranda no Brasil ocorreu, simultaneamente, na zona litorânea de Pernambuco e em áreas mais interioranas da Zona da Mata Norte. Nos primórdios, o ambiente de apresentação restringia-se a locais populares, como as beiras de praia, terreiros de bodega e pontas de rua. Seus participantes eram, basicamente, trabalhadores rurais, pescadores, operários de construção e biscateiros.
De mãos dadas, uma grande roda é formada por mulheres, homens, rapazes, moças e crianças. Enquanto movimentam o corpo, simulando o movimento das ondas do mar, girando à direita, com os braços e pés em movimentos graciosos, todos ondulam seus sonhos, acompanhando as canções tiradas pelo Mestre, que quase sempre está no centro da roda, ou ao lado. As pessoas repetem os versos do “puxador” da ciranda – a mais simples de todas as danças populares, pois não requer prática, nem habilidade. Seu ritmo lento e suave permite também a participação de pessoas idosas e atrai crianças pela facilidade e singeleza.
Só se consegue dançar ciranda de mãos dadas e em um único ritmo, por isso a escolha desse nome para a ONG. O Espaço Ciranda de Convivência e Desenvolvimento Social – ECCDS tem como grandes objetivos a união, a força e o pensamento único para um mundo melhor, acreditando no poder de transformação através da juventude. Nós, cirandeiros deste espaço, temos que seguir um único pensamento para alcançar um único objetivo, que é a convivência pacífica entre as pessoas e o desenvolvimento saudável da juventude, acreditando que somos fortes e unidos o bastante para transformar nossa realidade através da concretização de nossos sonhos.

Como é ser líder de uma ONG nos tempos de hoje, quando existem fraudes, corrupção e pessoas mal intencionadas?
Não é nada fácil! Desconfiam da nossa honestidade e das nossas verdadeiras intenções. Mas a grande beleza de tudo isso é perceber o quanto de facilidade há em ser verdadeiramente honesta, em acreditar no poder de transformação de um jovem, acreditar na sinceridade do sorriso de uma criança. O que realmente é difícil é não desistir diante das dificuldades do início de qualquer trabalho, é mostrar para a população e para o poder público que não estamos aqui para brincadeiras.
O Espaço Ciranda, para mim, vai muito além de um trabalho voluntário. Por esse sonho, abri mão de coisas também muito importantes. Voltei para Paulo Jacinto e, mesmo por tempo determinado, estou aqui nessa cidadezinha a que muitos só vêm a passeio, outros só vêm para reclamar da ociosidade, outros, ainda, só para estragar a paz e a alegria que ainda temos. Sou apaixonada por Paulo Jacinto, sempre fui, mesmo quando desejava sair daqui, quando era adolescente. Nunca tirei minha cidade do coração, nunca desejei mal às pessoas daqui, mesmo quando eram ruins ou agiam de má fé em alguma coisa.
Sempre achei que os jovens de Paulo Jacinto precisavam muito de apoio, precisavam ser ouvidos e bem orientados, precisavam se expressar, ao mesmo tempo em que também sempre fui apaixonada pela área da cultura, principalmente a popular, a cultura do povo, a que produz som, dança e música, e foi levando tudo isso em consideração que decidi colocar em prática o sonho do Ciranda, um sonho que acredita fielmente na transformação social através da arte e da cultura, que não apenas tem o jovem como público-alvo, mas que torna esse jovem parte do nosso grupo. Eu amo o Espaço Ciranda, ele me traz alegria mesmo diante das dificuldades, me torna uma pessoa mais forte, mais decidida, mais compreensiva e, acima de tudo, me proporciona uma sensação de não conformismo, uma sensação de “eu estou tentando, estou fazendo a minha parte e, se um dia não der mais certo, ao menos eu tentei”. 
             Quando eu morrer, estarei feliz e orgulhosa de mim, nunca terei a sensação de “ah, se eu tivesse tentado”, nunca... Pois eu tentei e Deus é prova disso, Deus vê meu esforço, minha dedicação diária, minhas preocupações; Deus vê também meus dias de desânimo e de fraqueza. No entanto, Ele segura a minha mão e me fortalece novamente.
Quero agradecer a todos os que acreditam no Ciranda, agradecer aos nossos jovens e às nossas crianças, agradecer aos nossos apoiadores financeiros, que nos ajudam a pagar as despesas com a sede. Mas quero agradecer principalmente às companheiras Priscila Canuto, que, apesar da distância, consigo perceber o quanto de amor e preocupação tem pelo nosso Ciranda, e Amércia Ferreira, minha companheira diária de luta, meu braço direito, a pessoa que mais me surpreendeu nos últimos meses, com sua honestidade e força; quero também agradecer aos cirandeiros Marília Ferro, Mary Silva, Lucas Marcondes, Gustavo Ferro, Paula e Joelma Barbosa, que, mesmo não estando mais com a gente, nos ajudaram, de alguma forma, a chegar a esse primeiro ano de vida.
Tenho orgulho do Ciranda, tenho orgulho de Paulo Jacinto. E acredito muito que, um dia, ainda iremos mudar a realidade da nossa cidadezinha Paulo Jacinto, Terra do Baile da Chita.

Quem quiser conhecer mais sobre o Espaço Ciranda é só acessar a página do projeto no Facebook: www.facebook.com/cirandacultural.


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