De acordo com a idealizadora da ONG, Maria Helena Uchôa Veiga, a ideia
do espaço já existia há anos. Mas, devido à correria do dia a dia, vida
profissional, filhos e marido, ela não tinha tempo para colocar o projeto em
prática. Depois de uma temporada de três anos em Recife, Maria Helena retornou a
Alagoas com uma meta a cumprir: tirar o Espaço Ciranda do papel e transformá-lo
em realidade. O sonho falou mais alto e a jovem decidiu reunir um grupo de
amigos para ajudá-la.
A primeira reunião do projeto aconteceu no dia 3 de junho de 2012.
Na ocasião, foram apresentadas propostas do projeto e o principal objetivo da
ONG: desenvolver a autonomia pessoal, intelectual e social de adolescentes e
crianças da cidade, estimulando novas formas de se relacionar socialmente e
ampliando as capacidades socioculturais.
A
principal meta do Espaço Ciranda não é apenas ocupar o tempo ocioso dos jovens,
mas também promover atividades culturais e lazer de qualidade. Todos os
interessados em participar da iniciativa têm fichas sociais preenchidas. Além
disso, são realizados estudos para melhor conhecimento da realidade de cada um.
Através da ficha social, os organizadores do espaço acompanham o
desenvolvimento emocional, psicológico e humano dos jovens atendidos e suas
relações sociais e intrafamiliares. O acompanhamento é realizado por meio
do método de observação, conversas informais e formais, parceria direta com as
escolas e contato com pais ou responsáveis.
Vale
ressaltar que todos os projetos, principalmente os voltados para o público
infantil, buscam interação direta com os familiares, pois, para os
idealizadores, a maior transformação social deve ser realizada no núcleo
familiar. Além das atividades culturais desenvolvidas, também são
discutidos em debates feitos pelas equipes e palestrantes convidados temas como
bullying, sexualidade, política e doenças
sexualmente transmissíveis. Maria Helena destaca que, no Espaço Ciranda, os
adolescentes têm voz ativa e são participativos, sugerindo mudanças e dando
ideias para o melhoramento das atividades desenvolvidas.
A
iniciativa mudou a rotina da cidade. Antes, os adolescentes clamavam por
atenção e a ociosidade tomava conta do município. Hoje, eles precisam organizar
suas agendas para dar tempo de participar de tantos projetos sociais e
apresentações solicitadas pela população nos eventos da cidade.
O
estudante Victor Andrade, 16, está no Ciranda desde a criação da ONG. Ele
sofreu um acidente, há pouco mais de um ano, que deixou sequelas em uma de suas
pernas. Cristina Santos, mãe do adolescente, conta que Victor ficou deprimido,
não queria sair de casa e estava desanimado com os estudos. O sonho do
adolescente era dançar, mas, após o acidente, ele passou a acreditar que isso
não seria possível. No Espaço Ciranda, Victor recuperou a autoestima e viu que
sua limitação seria superada. Hoje, o jovem faz dança e teatro e é um dos destaques
do grupo. As crianças e adolescentes que participam dos projetos sociais da ONG
sonham com uma profissão e convidam todos os amigos a participar, conhecer e fazer
parte da iniciativa.
O Espaço Ciranda de Cultura e Desenvolvimento
Social – ECCDS tem seus trabalhos focados nas crianças e adolescentes
paulojacintenses, podendo suas atividades ser estendidas, futuramente, para
outros públicos. A proposta inicial era que
as atividades fossem realizadas em espaços públicos da cidade, como escolas,
praças, quadras, ginásios e até a casa de algum membro do projeto. A
idealizadora do Ciranda conta que, no início, a grande dificuldade era a falta
de sede própria. A ausência de recursos impossibilitava as condições de manter
um espaço para desenvolver as atividades. Para contornar o problema, os
voluntários da ECCDS decidiram, então, utilizar espaços públicos para que a sociedade
conhecesse os trabalhos desenvolvidos.
Além
disso, o projeto conta com o apoio da Paróquia Nossa Senhora das Graças, que
cedeu um pequeno espaço para reuniões da equipe, e da Escola Municipal Souza
Barbosa e Escola Estadual José Correia Fontan, que também cederam espaços para
a realização de projetos com os adolescentes. O Clube Recreativo
Paulojacintense também é um dos parceiros.
Atualmente,
o Espaço Ciranda possui sede própria. Sua equipe é formada por profissionais
voluntários, como pedagogos, assistentes sociais, artista plástico, professora
de dança e teatro, psicóloga e estudantes universitários. Todos os recursos
para deixar o espaço funcionando são obtidos por meio de dedução fiscal,
doações espontâneas, campanhas, rifas, bingos, bazar cultural, festivais,
financiamentos e editais.
Conhecendo melhor a idealizadora
Maria Helena Uchôa Veiga, 28, é assistente social formada pela Universidade
Federal de Alagoas. Possui curso de atualização em políticas de proteção à
infância e à adolescência e especialização em planejamento e gestão de projetos
sociais. Foi assistente social técnica do Centro de Referência Social (Cras) do
Município de Paulo Jacinto e coordenadora do Projovem, também de Paulo Jacinto.
Entre os anos de 2008 e 2009, foi assistente social do Centro de Defesa dos
Direitos da Criança e do Adolescente Zumbi dos Palmares (AL). Também foi
assistente social do Centro de Saúde Severino Josino Guerra, da cidade de
Paulista (PE). De 2009 a 2011, atuou como assistente social do Centro Dom
Hélder Câmara de Estudos e Ação Social, em Recife (PE).
Além de sua experiência e
trabalhos na área de projetos voltados a crianças e jovens, Maria Helena é
casada e mãe de duas crianças. Mesmo assim, ainda arruma tempo para cuidar dos “cirandeiros”,
como ela chama carinhosamente os jovens do projeto.
Sobre o nome do projeto
Por que o nome Espaço Ciranda?
O surgimento da ciranda no Brasil ocorreu, simultaneamente, na
zona litorânea de Pernambuco e em áreas mais interioranas da Zona da Mata
Norte. Nos primórdios, o ambiente de apresentação restringia-se a locais
populares, como as beiras de praia, terreiros de bodega e pontas de rua. Seus
participantes eram, basicamente, trabalhadores rurais, pescadores, operários de
construção e biscateiros.
De mãos dadas, uma grande roda é formada por mulheres, homens,
rapazes, moças e crianças. Enquanto movimentam o corpo, simulando o movimento das
ondas do mar, girando à direita, com os braços e pés em movimentos graciosos,
todos ondulam seus sonhos, acompanhando as canções tiradas pelo Mestre, que
quase sempre está no centro da roda, ou ao lado. As pessoas repetem os versos
do “puxador” da ciranda – a mais
simples de todas as danças populares, pois não requer prática, nem habilidade.
Seu ritmo lento e suave permite também a participação de pessoas idosas e atrai
crianças pela facilidade e singeleza.
Só se consegue dançar ciranda de mãos dadas e em um único ritmo,
por isso a escolha desse nome para a ONG. O Espaço Ciranda de Convivência e Desenvolvimento Social – ECCDS tem como grandes objetivos a
união, a força e o pensamento único para um mundo melhor, acreditando no poder
de transformação através da juventude. Nós,
cirandeiros deste espaço, temos que seguir um único pensamento para alcançar um
único objetivo, que é a convivência pacífica entre as pessoas e o
desenvolvimento saudável da juventude, acreditando que somos fortes e unidos o
bastante para transformar nossa realidade através da concretização de nossos
sonhos.
Como é
ser líder de uma ONG nos tempos de hoje, quando existem fraudes, corrupção e
pessoas mal intencionadas?
Não é nada fácil! Desconfiam da nossa honestidade
e das nossas verdadeiras intenções. Mas a grande beleza de tudo isso é perceber
o quanto de facilidade há em ser verdadeiramente honesta, em acreditar no poder
de transformação de um jovem, acreditar na sinceridade do sorriso de uma
criança. O que realmente é difícil é não desistir diante das dificuldades do início de qualquer trabalho, é mostrar para a
população e para o poder público que não estamos aqui para brincadeiras.
O Espaço Ciranda, para mim, vai muito além de um trabalho
voluntário. Por esse sonho, abri mão de coisas também muito importantes. Voltei
para Paulo Jacinto e, mesmo por tempo determinado, estou aqui nessa cidadezinha
a que muitos só vêm a passeio, outros só vêm para reclamar da ociosidade,
outros, ainda, só para estragar a paz e a alegria que ainda temos. Sou
apaixonada por Paulo Jacinto, sempre fui, mesmo quando desejava sair daqui,
quando era adolescente. Nunca tirei minha cidade do coração, nunca desejei mal
às pessoas daqui, mesmo quando eram ruins ou agiam de má fé em alguma coisa.
Sempre achei que os jovens de Paulo Jacinto
precisavam muito de apoio, precisavam ser ouvidos e bem orientados, precisavam
se expressar, ao mesmo tempo em que também sempre fui apaixonada pela área da
cultura, principalmente a popular, a cultura do povo, a que produz som, dança e
música, e foi levando tudo isso em consideração que decidi colocar em prática o
sonho do Ciranda, um sonho que acredita fielmente na transformação social
através da arte e da cultura, que não apenas tem o jovem como público-alvo, mas
que torna esse jovem parte do nosso grupo. Eu amo o Espaço Ciranda, ele me traz
alegria mesmo diante das dificuldades, me torna uma pessoa mais forte, mais
decidida, mais compreensiva e, acima de tudo, me proporciona uma sensação de
não conformismo, uma sensação de “eu estou tentando, estou fazendo a minha
parte e, se um dia não der mais certo, ao menos eu tentei”.
Quando eu morrer, estarei feliz e orgulhosa de mim, nunca terei a sensação de “ah, se eu tivesse tentado”, nunca... Pois eu tentei e Deus é prova disso, Deus vê meu esforço, minha dedicação diária, minhas preocupações; Deus vê também meus dias de desânimo e de fraqueza. No entanto, Ele segura a minha mão e me fortalece novamente.
Quando eu morrer, estarei feliz e orgulhosa de mim, nunca terei a sensação de “ah, se eu tivesse tentado”, nunca... Pois eu tentei e Deus é prova disso, Deus vê meu esforço, minha dedicação diária, minhas preocupações; Deus vê também meus dias de desânimo e de fraqueza. No entanto, Ele segura a minha mão e me fortalece novamente.
Quero agradecer a todos os que acreditam no
Ciranda, agradecer aos nossos jovens e às nossas crianças, agradecer aos nossos
apoiadores financeiros, que nos ajudam a pagar as despesas com a sede. Mas
quero agradecer principalmente às companheiras Priscila Canuto,
que, apesar da distância, consigo perceber o quanto de amor e preocupação tem
pelo nosso Ciranda, e Amércia Ferreira,
minha companheira diária de luta, meu braço direito, a pessoa que mais me
surpreendeu nos últimos meses, com sua honestidade e força; quero também agradecer
aos cirandeiros Marília Ferro, Mary Silva, Lucas Marcondes,
Gustavo Ferro,
Paula e Joelma Barbosa,
que, mesmo não estando mais com a gente, nos ajudaram, de alguma forma, a
chegar a esse primeiro ano de vida.
Tenho orgulho do Ciranda, tenho orgulho de Paulo Jacinto.
E acredito muito que, um dia, ainda iremos mudar a realidade da nossa
cidadezinha Paulo Jacinto, Terra do Baile da Chita.
Quem quiser conhecer mais sobre o Espaço Ciranda é só acessar a
página do projeto no Facebook: www.facebook.com/cirandacultural.
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